Valsas comigo & outros contos
1. Estou sozinho no campo. Entre os jogadores da minha equipa. A corrermos. No campo. - Um a chutar a bola. Em movimento. A pontapeá-la. Em direcção à baliza. Para meter um golo. Em vez de ma passar. Que estou mais perto. Da baliza. Mas ninguém passa a bola. À ninguém. Querem ser estrelas. Querem o sucesso. Só para eles. O aplauso. Das bancadas. Não existe espírito. De equipa. Todos são capitães. Todos são treinadores. Todos são comentadores também. E até querem ser todos. O árbitro do jogo. E o apito final.
2. A equipa adversária também tem. 11 jogadores. Que correm atrás da bola. Como nós. Cada um. Corre. --- Sem passar a bola. À ninguém. Estrelas. Cadentes.
3. Aos 45 anos de idade já cheguei à segunda parte. Do jogo. Teria de ser um grande optimista. Se pensasse. Que ainda fosse a primeira parte.
4. Não me importo já estar nos últimos minutos. Não me importo que não haja prolongamento. Não me importo ser expulso do campo. De me apontarem o cartão vermelho. -- É raro. Um jogador ver o cartão. Vermelho. Devia ser usado. Mais vezes. Penso.
Procuro Novo Dono, Nem Romance, Nem Novela
Quando me lembro da escola pergunto-me por vezes, quanto tempo passei sentada na sala de aula. Que cheirava a giz e produtos de limpeza. Passei mais tempo nos corredores do que propriamente a estudar. Mais tempo a conversar com os colegas do que prestando atenção aos professores. A falarem de Pitágoras. Das diversas teorias da comunicação. Do acto de fala de Austin. Do «signo» de Saussure. – Aquário? Balança? ---
Des/Encontros & Novos Contos da Madeira
Estava sentado no calhau, de olhar esvaziado espetado no mar. Ela sentou-se ao seu lado.
«O que vês?», perguntou com ironia.
«Um homem!», respondeu, sério.
«Onde?»
«Ali!» Apontou para uma rocha que se erguia do mar.
«É uma pedra!», protestou de voz crispada.
«Digo-te que é um homem. Um mártir a sair da água!»
«Quem é ele? Para onde vai?», perguntou, curiosa.
«Aparecerá junto de um ermo rochedo, onde lhe construíram a capela de basalto, à foz da Ribeira.»
«De quem falas?»
«De um Santo!»
«Conta-me!», pede.
«Não te quero aborrecer! ...»
«Conta-me!», implorou, «Tudo!»
«Foi naquele tempo em que a tortura fazia parte da lei de cada país.», começou...
Manual de Aprendizagem, Metodologia de Estudo e Técnicas de Comunicação e Expressão do Alemão
Talvez conheças o dilema de passar o fim-de-semana inteiro a estudar para uma frequência na segunda-feira. E, na hora da verdade, confrontado com as questões do enunciado, não te lembrares de nada daquilo que estudaste com tanto esforço – dá-te uma branca: ‘black out’.
Apostaste, então, numa metodologia de estudo inadequada...
Operação Outono, Sobre a vida e a morte de Humberto Delgado o General sem Medo
O livro conta pormenorizadamente a popularidade que Delgado atingiu ao lançar – no café Chave d’Ouro em Lisboa, durante uma conferência de imprensa – a sua célebre frase: “Obviamente demito-o" com a qual traçava o destino que Salazar levaria, no caso que o general ganhasse estas eleições...
Juventude sem Deus: Ödön von Horváth sobre a Educação no Nacional-Socialismo
Jugend ohne Gott, foi um sucesso imediato, lido e apreciado pelos escritores alemães exilados nos quatro cantos do mundo. No mesmo ano em que é editado é também traduzido para oito línguas. O realizador americano Robert Siodmak (1900-1973) quis até adaptar o romance ao filme de cinema. Porém, esta adaptação não se concretizou...
Submetei-vos todos às autoridades: da Epístola aos Romanos à resistência de Dietrich Bonhoeffer
Bonhoeffer está convicto que será necessário resistir e acabar com a ditadura de uma vez por todas. Mas não sabe como. O sacerdote Martin Niemöller desperta a admiração de Bonhoeffer ao proteger clérigos de ascendência judia. Bonhoeffer também sente a vontade de agir. Recebe o convite para se deslocar à Índia, onde Mahatma Gandhi se dispõe a recebê-lo. Bonhoeffer tem a esperança de aprender de Gandhi como resistir de forma pacífica e eficaz. Mas o encontro nunca se dará...
O Pide — Uma tragédia em duas farsas
MANUEL FERNANDES E CASTRO — Fui cá eu! Estão mas é à procura de um bode-expiatório! Alguém que possam condenar pelas vossas loucuras! Mas não hei-de ser eu! Eu estou inocente! … Mentiras! Só mentiras! --- Luta das classes e tontarias semelhantes. Querem ser todos iguais! Mas há sempre um que é mais igual que o outro! Os chineses andam de bicicleta enquanto Mao Tsé-Tung anda de mercedes! Igualdade? Não me façam rir!
ESTUDANTE — O tolo és tu! Fica a saber que nem todos que defendem a liberdade têm de ser comunistas ou anarquistas! …
MANUEL FERNANDES E CASTRO [irritado: — Liberdade, liberdade! Enjoa-me ouvir falar de liberdade! Sabes o que é a liberdade, puto? O caos! A imoralidade! A indecência! O fim da sociedade e do estado! Não me venhas com liberdade! A república foi o exemplo que o português não sabe usar da liberdade! …
From a Man without a Country to an American by Choice: John Dos Passos and Migration
When the Nazis occupied the Netherlands in 1940, 4,300 Sephardic Jews tried to escape deportation to the concentration camps by claiming to have Portuguese ascendancy. The Nazis contacted Salazar, to know if the Portuguese dictator was interested in exchanging the Jews against the much-needed wolfram to harden steel fabricated in the German armament industry. Yet, Salazar was all but enthusiastic about it. He negotiated hard to export the less amount of wolfram possible in exchange of the maximum numbers of German weaponry and gold. To give in to the Nazis, by showing interest in the Jews of Portuguese ascendancy, would have meant to jeopardize the whole negotiations.
However, when Salazar received a telegram with Portuguese Jewish names listed that were deported to the concentration camps, Salazar sent immediately for the German ambassador in Lisbon. The latter explained that if the Jews had Portuguese passports they had nothing to fear. They would be allowed leave, since Portugal was a neutral country. Yet, those that were Dutch, and only had Portuguese ascendancy, were considered enemies and were thus deported and annihilated. Yet, if Salazar was so much interested in the Jews, it was stressed, the wolfram-deal with Portugal could have been re-negotiated. Portugal would get the Sephardic Jews for the wolfram deliveries. Salazar strictly declined this attempted blackmail. Moses Amzalak, the President of the Jewish community in Lisbon, and Salazar’s council on the matter, claimed that the Portuguese dictator had wet eyes when the German ambassador left. To be true, António de Oliveira Salazar was not anti-Semitic even though he did not help these Jews. Their lives it seems were not as much worth as the German arms and the Nazi Raubgold (stolen valuables, among them gold, as the Opfergold—the gold that belonged to the victims of National Socialism), which was traded for wolfram instead of the Reichsmark that during the time of war had suffered from raging hyperinflation. On the other hand, those Jews that had succeeded to flee to Portugal were welcomed in the country. Actually, in January 2, 1943, Salazar ordered the legalization of the Jewish refugees that were living in Portugal in the condition of illegal immigrants. Some of them went to live at Ericeira, where the local population greeted them, what essentially annoyed the German spies in the country. Salazar wanted to avoid any political tensions with Nazi Germany whose declared aim it was to exterminate the Jews not only in its Reich but also in Europe. Thus, when Aristides de Sousa Mendes, the Portuguese consul at Bordeaux, gave out visas for thousands of Jewish refugees, Salazar dismissed him from his post. The Portuguese dictator was afraid to put at risk his good economic relations with Hitler’s Reich. In addition, Salazar had been alarmed that some of the refugees to whom Mendes authorized indiscriminatingly entry were adherent to a “communist philosophy.”
Günter Grass A Passo de Caranguejo, Biografia
“A 30 de Setembro do mesmo ano, por volta da uma da tarde, recebe o Nobel da Literatura pelo romance O Tambor e por toda a sua obra literária.
“Finalmente”, como disse Volker Huber. “Já era tempo! Esperámo-lo há muito!”, comentou o escritor Martin Walser. Também Jürgen Habermas, talvez um dos mais famosos filósofos alemães depois de Theodor Adorno e Max Horkheimer, afirma que Grass é o representante mais importante da intelectualidade alemã pelo que já estava na altura de ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.
Durante muitos anos, aliás, Grass foi considerado por vários críticos da literatura, em vários países, um candidato potencial. “Günter Grass [assim consta no comunicado de imprensa da Academia Sueca de 1999] declara-se o «racionalista tardio», num tempo que se fartou da razão. Ele fabuliza e dá conferências sábias, influencia o sufrágio e escreve monólogos ousados, reproduz e produz ao mesmo tempo em tom de ironia um dialecto que só ele domina. Compara-se a Thomas Mann, através do poder que detém sobre a sintaxe alemã e a sua apetência para usar as finuras labirínticas. A sua obra é um diálogo com a imensa herança da cultura alemã, a qual ele conduz com rigor e amor.”
É evidente que se sentiu lisonjeado com esta nomeação. Porém lamentou que o júri da Academia Sueca tenha desperdiçado a oportunidade única de premiar no mesmo ano, não uma mas duas personalidades. Referia-se obviamente à escritora da ex-RDA, Crista Wolf. Alegou de que nunca houvera uma separação literária, apesar do muro que dividiu as duas Alemanhas durante décadas. A literatura terá servido mesmo de elo de ligação cultural. Por isso, sentir-se-ia muito melhor se a Academia Sueca tivesse atribuído também o Prémio Nobel a Crista Wolf; a concretização desse seu desejo, no entanto, era pouco provável, não só porque os estatutos do Nobel permitem distinguir uma só pessoa por ano na categoria da literatura, mas também e, sobretudo, por causa do passado de Crista Wolf, isto é, o seu envolvimento consciente no MfS (o ministério pela segurança do estado da ex-RDA), um órgão de repressão política.”
Sem Título
A vida é
Profissão
De quem há muito
Anda à procura
De novo emprego.
(afro_ismo, ou a nova máxima de um puto_guês)
Ensaios…
“Bonhoeffer arriscara a vida. De nada parece ter valido. A não ser que hoje se possa dizer que de facto houve uma pequena minoria na sociedade alemã e dentro do seio da Igreja que resistiu ao tirano, apesar de não ter tido sucesso no seu aniquilamento. Bonhoeffer, porém, diz o inverso tanto da Igreja como do papel que ele próprio desempenhou na resistência. Antes de morrer Bonhoeffer escreve: “A Igreja … calou-se quando devia ter gritado, quando se derramou o sangue das vítimas… Ela testemunhou que se cometeram atrocidades em nome de Cristo. […] A Igreja reconhece que assistiu sem erguer a sua voz à pilhagem e exploração dos pobres, à corrupção e ao enriquecimento dos poderosos. A Igreja reconhece que se tornou culpada perante o assassinato dos inúmeros homens de honra que foram denunciados e difamados. Ela não provou a culpa dos caluniadores e entregou os infamados ao seu [triste] destino.” ‘Somos testemunhas mudas de atrocidades […] e aprendemos a arte do disfarce e da polissemia das palavras. Com a acumulação de experiência ficamos desconfiados e muitas vezes ficamo-lhes a dever a verdade e a palavra libertadora. Conflitos insuportáveis moeram-nos e talvez tornaram-nos cínicos – será que ainda prestamos?’”
Ödön von Horváth
Juventude sem Deus
(Tradução e Prefácio de Miguel Oliveira)
A meio da noite ouço a campainha a tocar.
Quem está aí?
Ou será que me enganei?
Não, está a tocar novamente!
Dou um salto da cama, visto o roupão e saio do quarto.
A minha senhoria já está lá, despenteada e cheia de sono.
«Quem vem lá?», pergunta ela preocupada.
«Quem está aí?», pergunto pela porta.
«Polícia judiciária!»
«Meu Deus!», grita a senhoria horrorizada, «o que é
que fez senhor professor?»
«Eu? Nada!»
A polícia entra – dois comissários. Perguntam por mim.
Sim, sou eu.
«Só queremos uma informação. Vista-se. Terá de nos
acompanhar.»
«Para onde?»
«Agora não!»
Visto-me precipitado – o que é que aconteceu?
Depois estou no carro. Os comissários continuam
calados.
Para onde vamos? […]
Tenho medo.
«Meus senhores», digo, «por amor de Deus o que é
que aconteceu?»
«Agora não!»
Manual de Aprendizagem
… Na linguagem oral, usamos sons que produzimos através do nosso aparelho fonador. Conseguimos articular 2,5 palavras por segundo. Usamos ainda a entoação para exprimir ironia ou chamarmos a atenção para algo.
Ao escrevermos, necessitamos de mais tempo. Usamos letras, signos visuais que juntos compõem a palavra. A pontuação assinala o ritmo e a entoação.
Na linguagem escrita não existe a presença física do emissor, ao contrário do que ocorre na linguagem oral, em que o falante (locutor) e o receptor, nem sempre, estão fisicamente presentes.
Aquilo que é transmitido via discurso falado não é conservável. Ninguém consegue repetir estritamente o que dissera três dias antes numa discussão entre amigos.
Tudo o que é escrito é conservável. Poderemos até relê-lo exactamente como foi escrito séculos depois.
O texto escrito é elaborado com mais rigor e cumpre com mais facilidade as normas gramaticais.
O texto falado é espontâneo, autêntico. Surgem erros gramaticais (entre outros, os de sintaxe) porque a certa altura já não nos recordamos como iniciamos a frase e como a queríamos terminar.
Usamos com mais frequência bordões da fala, como hesitações (…) que nos dão mais tempo para pensar, estruturar o pensamento e continuarmos a frase. …
Uma Mão Cheia do Teu Sorrir
& Partiu à Meia-Noite
«Não devem mais mijar às centenas contra o muro da poesia.», diz ele.
É per/seguido… Pelos seus ideais.
Socialista. Socialista.